Como entender e superar a crise de confiança dos Parlamentos foi centro dos debates do EnGITEC
Acompanhar e entender as mudanças que estão acontecendo no mundo e seus impactos no Parlamento foi a constante nas várias palestras que aconteceram durante todo o dia no auditório do Programa Interlegis, como parte do 10º EnGITEC (Encontro Nacional do Grupo Interlegis de Tecnologia).
Já ao dar as boas-vindas, o diretor-executivo do ILB, Helder Rebouças, disse que o modelo político brasileiro está passando por grandes transformações e a tecnologia está caminhando próximo delas. Acrescentando que, o que chamou de “movimento disruptivo da política”, se dá, em grande escala, pela força das tecnologias digitais. Ele apontou que essa tecnologia está influenciando nas relações dentro do Parlamento, com o maior engajamento do cidadão nas discussões legislativas e que o Encontro tem papel importante como espaço para perceber estas mudanças e as demandas que surgem.
Primeira palestrante do dia, a assessora empresarial do Banco do Brasil, Sephora Lilian, apresentou um cenário da revolução tecnológica que trouxe mudanças de ordem exponencial nos modelos de negócios, facilmente identificada em alguns grupos mundiais como Uber, Whastapp e Airbnb, cujo modelo não está mais na posse e, sim, na plataforma colaborativa. “Vivemos em tempos de economia colaborativa”, frisou. Sephora também provocou os presentes afirmando que, no futuro breve, mais de 3 bilhões de pessoas irão produzir exclusivamente através da internet e indagando se “estamos preparados para o futuro emergente”.
Gino Terentim, consultor de organização e estratégia da Caixa Econômica Federal, também falou sobre novos modelos de decisão e planejamento estratégico nas organizações. Este, por exemplo, não pode ser feito olhando para trás e, embora possa utilizar uma base histórica, precisa mirar o futuro, ainda que incerto, insistindo também na necessidade de colaboração.
Transparência e participação
Já o Coordenador de Tecnologia da Informação do ILB/Interlegis, Sesóstris Vieira, ao exibir um vídeo em que um bebê recém-nascido, é totalmente familiarizado com as novas tecnologias, destacou que este é o perfil que o legislativo vai atender de agora em diante. “Esse cidadão não vai ficar satisfeito em apenas votar de 4 em 4 anos. Ele quer participar, quer agir e interagir, conversar com o parlamentar que elegeu. Quer informações instantâneas, na ponta dos dedos”, aponta o palestrante.
Sesóstris Vieira defendeu que os Parlamentos do futuro precisam atender às demandas dos cidadãos que já nasceram conectados. E lembrou que o Interlegis oferece plataformas que garantem a aproximação entre eleitos e eleitores. “São ferramentas que proporcionam à sociedade a chance de participar dos mandatos”, apresentando alguns destes produtos disponibilizados gratuitamente - Portal Modelo, SAPL, e-mail legislativo, e-Democracia- além das Oficinas presenciais.
Diego Cunha, do LabHacker da Câmara dos Deputados, começou falando da crise de confiança nos Parlamentos em todo o mundo e nos questionamentos em relação à democracia representativa, para depois apresentar a experiência da qual tem participado já há alguns anos. As ferramentas de participação, transparência e mais debate que a Câmara dos Deputados tem implantado, segundo ele, auxiliam no aperfeiçoamento da democracia. Ele mostrou algumas dificuldades que têm sido encontradas, que levaram à atualização de ferramentas ou até ao abandono de algumas tentativas. Mas, também, ao êxito de outras, como o e-Democracia que, embora pensado para o Legislativo, tem sido adotado por instituições diversas e até órgãos do Executivo.
Parlamentares falam
O vereador mais votado de Mogi das Cruzes (SP), Caio Cunha, mostrou a sua visão do parlamentar do futuro a partir da própria experiência no mandato. Eleito pela primeira vez em 2012, em último lugar, na eleição seguinte foi o mais votado da região do Alto Tietê, com crescimento de 357% do número de votos. Adepto do mandato colaborativo, criou a Metodologia 300 que, na realidade, reúne mais de 460 pessoas, que oferecem suas habilidades de forma voluntária para buscar soluções para os problemas do município. Caio também falou da Fórmula 3G (gente, gente e gente) que coloca as pessoas no foco do seu mandato, pois “elas querem se sentir participantes do processo político”. Ele disse que construiu seu mandato com base em transparência, participação, representatividade, formação (inclusive de futuras lideranças) e sustentabilidade.
O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Joe Valle, também contou sua experiência no EnGITEC, e disse que foi igualmente buscar na transparência e na participação uma maneira de “ressignificar” a instituição. Depois de tentar algumas formas de mudança no modelo adotado no Legislativo local, ele encontrou a saída num grupo de servidores que criou o Laboratório Hacker de Inovação (nos moldes e com o suporte do LabHacker da Câmara).
Com o Labhinova, contou Valle, foi possível aumentar a transparência, trazer os jovens para mais perto da Câmara, aumentar a participação e agir no controle de gastos. A estrutura agora está vinculada à presidência da instituição, uma forma de ser incorporada. Isso depois de funcionar mais de um ano sem qualquer vínculo, conforme destacou Larissa Barros, coordenadora do Labhinova, para quem ao agregar a plataforma e-Democracia às demais ferramentas, “houve uma grande revolução na CLDF”, o que foi possível graças ao apoio da Câmara e do Programa Interlegis, segundo ela.
Encerrando o dia, João Henrique Gouveia, também da equipe do Interlegis/ILB, que já chefiou a Coordenação de TI, saiu do Senado para o Executivo, voltou, falou da sua experiência pessoal em “As aventuras e desventuras de um nerd na Gestão de TI” – para também dizer da necessidade de sair da zona de conforto e encarar as mudanças.